O II ENLLIJ/UESB uniu nomes de todos os pontos do Brasil, abordando a Leitura em suas diversas faces. O tema Leitura e desenvolvimento emocional ficou por conta de um convidado da cidade de Porto Alegre (Região Sul): Dr. Celso Gutfreind, Escritor, Médico Especialista em Psiquiatria Infantil, professor da Faculdade de Medicina e do Mestrado de Saúde Coletiva da ULBRA e da Fundação Universitária Mário Martin que, pela segunda vez, participa de evento na cidade de Jequié. Em entrevista gentilmente cedida ao Webjornal Laboratório, Dr. Celso Gutfreind fala sobre a importância da história para o desenvolvimento psíquico e da sua satisfação em participar deste II Encontro Nacional. Confira:
Webjornal Laboratório: No II ENLLIJ, o senhor ministrou um mini-curso com o tema Leitura e Desenvolvimento Emocional e, junto com o Prof. Josmar Barreto/UESB, comentou o filme “As mil e uma noites”, que retrata a importância das histórias para a cura emocional. Como deu início este trabalho de cura emocional através de histórias?
Dr. Celso Gutfreind: Este trabalho, na verdade, teve dois momentos principais: um deles foi durante as minhas pesquisas de mestrado e doutorado quando eu trabalhei em abrigos franceses de crianças que estavam separados de seus pais e lá, junto com colegas montamos uma equipe onde a gente fazia psicoterapia destas crianças, todas, enfim, com sofrimento psíquico muito importante e nessa psicoterapia nós utilizávamos o conto como mediador. Tradicionalmente a gente usa no tratamento das crianças as técnicas do jogo e do desenho, as mais conhecidas. Com esta experiência tentamos mostrar o conto como mediador importante no tratamento destas crianças. Num segundo momento, trouxemos esta técnica para o Brasil, e junto com uma nova equipe, composta aqui, isso lá na ULBRA, utilizamos o conto para tratar crianças de uma escola comunitária no subúrbio de uma cidade satélite de Porto Alegre – Canoas, onde a gente utilizou o conto como mediador para tentar ajudar estas crianças que tinham dificuldade de aprendizagem muito grande. Para crianças que não aprendiam ler e escrever nós abrimos um espaço de sessões terapêuticas usando o conto. Foram basicamente estas duas experiências.
WebJL: Além de médico psiquiatra, o senhor é professor e também escritor de inúmeros livros. Quem veio primeiro: o médico ou o escritor?
Gutfreind: O escritor veio antes. Comecei a escrever na adolescência. Escrevia muito, mas sempre com aquela idéia de que não se vive só de literatura. A profissão que parecia mais próxima de mim era a Medicina, que me envolveu muito, mas nunca abafou o escritor que começou antes e que felizmente não foi substituído depois.
WebJL: Realizar um Encontro Nacional de Leitura no interior da Bahia é uma ação grandiosa. Esta iniciativa é ousada?
Gutfreind: Eu vejo esta iniciativa como maravilhosa! A gente sabe que o nosso país tem recursos fantásticos em termos de gente... de gente pensando, trabalhando, fazendo atividades criativas... No entanto, ficamos isolados porque existe ainda uma dominação, uma ocupação maior de espaço e de visibilidade dos grandes centros que são sempre os mesmos que aparecem. Mas, no fundo é que na verdade esses lugares, por mais que tenham recursos financeiros ou tecnológicos maiores, são lugares que já estão saturados. Muitas vezes não é de lá que vêm as idéias novas, essa criatividade, mas também de locais menos visíveis. Quando surge uma oportunidade como esta, a gente estreita laços – que é a coisa mais importante – e fica muito contente em ver iniciativas que são maravilhosas com trabalhos muito criativos. Isso dá um alento ao sofrimento gerado pelas dificuldades. A gente vê como tem gente boa, com boas idéias, colocando em prática trabalhos interessantes. Essa experiência eu já tive na primeira que estive em Jequié, eu fiquei muito impressionado quando vi a energia criativa da cidade e agora mais ainda com esse Encontro muito maior e de proporções bem grandes.
WebJL: “É preciso contar histórias para sobreviver”. Em que está referindo este pensamento?
Gutfreind: refere-se basicamente a todos nós, quando na idéia de que se a gente não conta, se a gente não tem vontade de contar e não tem vontade de ouvir histórias é um sinal de que algo não está bem. A saúde, a vida humana, a vida dos seres humanos é uma grande contação de histórias. Estamos o tempo inteiro contando histórias para encontrar e se vincular com o outro e para dizer o que sente. Se a gente não consegue dizer o que sente e nem encontra o outro é um sinal de morte psíquica.
WebJL: Para o público, a sua participação no II ENLLIJ foi sensacional. O que fica do II ENLLIJ/ UESB?
Gutfreind: Estou muito contente em ter participado do Evento. O II ENLLIJ fez aquilo que as histórias fazem e que é importante fazer: promover encontro de pessoas que vêm de diferentes lugares, com histórias e experiências diferentes, e é isso que enriquece. Tenho certeza de que todos sairão daqui com mais vontade de contar histórias, de aprender, de trabalhar e de viver do que quando chegaram.
Por: Cristiane Rocha, Tamilles Rocha e Tereza Wilma
Webjornal Laboratório: No II ENLLIJ, o senhor ministrou um mini-curso com o tema Leitura e Desenvolvimento Emocional e, junto com o Prof. Josmar Barreto/UESB, comentou o filme “As mil e uma noites”, que retrata a importância das histórias para a cura emocional. Como deu início este trabalho de cura emocional através de histórias?
Dr. Celso Gutfreind: Este trabalho, na verdade, teve dois momentos principais: um deles foi durante as minhas pesquisas de mestrado e doutorado quando eu trabalhei em abrigos franceses de crianças que estavam separados de seus pais e lá, junto com colegas montamos uma equipe onde a gente fazia psicoterapia destas crianças, todas, enfim, com sofrimento psíquico muito importante e nessa psicoterapia nós utilizávamos o conto como mediador. Tradicionalmente a gente usa no tratamento das crianças as técnicas do jogo e do desenho, as mais conhecidas. Com esta experiência tentamos mostrar o conto como mediador importante no tratamento destas crianças. Num segundo momento, trouxemos esta técnica para o Brasil, e junto com uma nova equipe, composta aqui, isso lá na ULBRA, utilizamos o conto para tratar crianças de uma escola comunitária no subúrbio de uma cidade satélite de Porto Alegre – Canoas, onde a gente utilizou o conto como mediador para tentar ajudar estas crianças que tinham dificuldade de aprendizagem muito grande. Para crianças que não aprendiam ler e escrever nós abrimos um espaço de sessões terapêuticas usando o conto. Foram basicamente estas duas experiências.
WebJL: Além de médico psiquiatra, o senhor é professor e também escritor de inúmeros livros. Quem veio primeiro: o médico ou o escritor?
Gutfreind: O escritor veio antes. Comecei a escrever na adolescência. Escrevia muito, mas sempre com aquela idéia de que não se vive só de literatura. A profissão que parecia mais próxima de mim era a Medicina, que me envolveu muito, mas nunca abafou o escritor que começou antes e que felizmente não foi substituído depois.
WebJL: Realizar um Encontro Nacional de Leitura no interior da Bahia é uma ação grandiosa. Esta iniciativa é ousada?
Gutfreind: Eu vejo esta iniciativa como maravilhosa! A gente sabe que o nosso país tem recursos fantásticos em termos de gente... de gente pensando, trabalhando, fazendo atividades criativas... No entanto, ficamos isolados porque existe ainda uma dominação, uma ocupação maior de espaço e de visibilidade dos grandes centros que são sempre os mesmos que aparecem. Mas, no fundo é que na verdade esses lugares, por mais que tenham recursos financeiros ou tecnológicos maiores, são lugares que já estão saturados. Muitas vezes não é de lá que vêm as idéias novas, essa criatividade, mas também de locais menos visíveis. Quando surge uma oportunidade como esta, a gente estreita laços – que é a coisa mais importante – e fica muito contente em ver iniciativas que são maravilhosas com trabalhos muito criativos. Isso dá um alento ao sofrimento gerado pelas dificuldades. A gente vê como tem gente boa, com boas idéias, colocando em prática trabalhos interessantes. Essa experiência eu já tive na primeira que estive em Jequié, eu fiquei muito impressionado quando vi a energia criativa da cidade e agora mais ainda com esse Encontro muito maior e de proporções bem grandes.
WebJL: “É preciso contar histórias para sobreviver”. Em que está referindo este pensamento?
Gutfreind: refere-se basicamente a todos nós, quando na idéia de que se a gente não conta, se a gente não tem vontade de contar e não tem vontade de ouvir histórias é um sinal de que algo não está bem. A saúde, a vida humana, a vida dos seres humanos é uma grande contação de histórias. Estamos o tempo inteiro contando histórias para encontrar e se vincular com o outro e para dizer o que sente. Se a gente não consegue dizer o que sente e nem encontra o outro é um sinal de morte psíquica.
WebJL: Para o público, a sua participação no II ENLLIJ foi sensacional. O que fica do II ENLLIJ/ UESB?
Gutfreind: Estou muito contente em ter participado do Evento. O II ENLLIJ fez aquilo que as histórias fazem e que é importante fazer: promover encontro de pessoas que vêm de diferentes lugares, com histórias e experiências diferentes, e é isso que enriquece. Tenho certeza de que todos sairão daqui com mais vontade de contar histórias, de aprender, de trabalhar e de viver do que quando chegaram.
Por: Cristiane Rocha, Tamilles Rocha e Tereza Wilma
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